Não
farei de santos os tempos em que meu olhar era mais doce. Mas eu lembro que
podia voar.
Nos
sonhos, o corpo acompanhava a cabeça que já vivia nas nuvens. Mas adiantava
voar se não se podia ir para muito longe? Todo abrigo é também uma prisão. A
infância era uma bolha mágica, e mesmo aquilo de mais assustador e perigoso não
penetrava, a mente era blindada e o coração era inocente como flores. Por
quanto tempo escolhi o abrigo seguro e não a liberdade? Hoje não sei se algum
dia houve abrigo. Se a prisão era também abrigo. Se só havia prisão...
Mas
choro às vezes com o perfume de noites semelhantes àquelas tão distantes. A
velha criança quer renascer, brincar, correr, sonhar. Mas não há como, faz
escuro lá fora e os sonhos adormecem todos.
Então
é isso ser gente grande,
Ter
medo do escuro?
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