24 de set. de 2022

 

Alguma palavra certo tanto mais doce, mais bonita quem sabe, vai insistindo em romper a grossa camada de nuvens que camufla a luz. Do céu, da alma. 

A primavera nascera assim, com as ruas e avenidas envoltas em bruma suave, com alguns corações mergulhados em dolorosos adeuses, com a chuva caindo fininha e uma canção falando sobre o fim do inverno. 

Ainda são tempos extremamente esquisitos, como disse a poetisa. Mas já podemos vislumbrar alguns sorrisos, aqui ou acolá. E como são lindos, todos eles... Podemos falar até em, quem sabe, meu Deus, dias mais felizes. Talvez fosse sobre isso que os ipês cantavam através das suas últimas florações ao longo do caminho.

Pois que ainda que seja tão simples ou tão estranha, tão bela ou tão amendrontadora, isso que flui pelas vozes, pelos abraços novamente possíveis, pelos sonhos guardados e esquecidos nas noites profundas, isso, não tenho dúvida, é vida.

19 de set. de 2022

 


Há essa atmosfera, e sua radiante e limpa claridade quase líquida escorrendo pelos espaços abertos e galhos ressequidos dos ipês com as suas últimas flores do ano. 

Falam-me em pecado, mas essa luz tamanha me faz lembrar das palavras do jovem mestre ao pregar que o amor cobriria uma multidão deles. 

E há o vento fresco, puro, e o mundo que ainda não se cansou de girar, renovando de novas cores a vida que às vezes vai empalidecendo aos poucos, desbotando...

Talvez sejam dias como este, de céu lavado por chuvas mansas e inesperadas, em que pelas esquinas olhares gentis ainda se cruzam e pelos jardins frondosas flores vermelhas desabrocham cada vez mais e mais, que anunciem uma espécie de prelúdio do fim de tempos sombrios. 

Há tanto que a palavra Esperança não é usada, talvez por medo de banalizar o sagrado e fazer dela o mesmo que fora feito do Amor, uma imensa e delicada utopia, algo tão belo e vasto e sem razão de existir.

Contudo, como dito, há o céu, a luz, o vento, o olhar, as nuvens filiformes que são como pinceladas leves decorando o firmamento, então o peito se aquece por um momento e parece valer a pena acreditar, talvez, em tempos mais bonitos.