19 de set. de 2022

 


Há essa atmosfera, e sua radiante e limpa claridade quase líquida escorrendo pelos espaços abertos e galhos ressequidos dos ipês com as suas últimas flores do ano. 

Falam-me em pecado, mas essa luz tamanha me faz lembrar das palavras do jovem mestre ao pregar que o amor cobriria uma multidão deles. 

E há o vento fresco, puro, e o mundo que ainda não se cansou de girar, renovando de novas cores a vida que às vezes vai empalidecendo aos poucos, desbotando...

Talvez sejam dias como este, de céu lavado por chuvas mansas e inesperadas, em que pelas esquinas olhares gentis ainda se cruzam e pelos jardins frondosas flores vermelhas desabrocham cada vez mais e mais, que anunciem uma espécie de prelúdio do fim de tempos sombrios. 

Há tanto que a palavra Esperança não é usada, talvez por medo de banalizar o sagrado e fazer dela o mesmo que fora feito do Amor, uma imensa e delicada utopia, algo tão belo e vasto e sem razão de existir.

Contudo, como dito, há o céu, a luz, o vento, o olhar, as nuvens filiformes que são como pinceladas leves decorando o firmamento, então o peito se aquece por um momento e parece valer a pena acreditar, talvez, em tempos mais bonitos.

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