27 de abr. de 2022

 

Talvez outra vez não fosse o fim do mundo afinal...

Apenas uma canção de falsa beleza 

Instiga a procurar pelo murmúrio de fantasmas ancestrais 

Em busca de algo ainda assombrar,

Em busca de algo ainda sentir.


Só que já não doem os olhares frios,

Congelados.

Já não corta o silêncio que nunca mais será pleno...


Você não vê, 

Mas o sol se põe como se alvorecesse,

E no caminho que se estende até o horizonte 

Quase não restam escombros

Ou culpas 

Ou saudades. 


Talvez isso seja Esperança.


Se muito amei, meus muitos pecados foram perdoados,

Disse o Mestre,

Então que fluam como água pura 

Os tão desejados novos dias

E lavem meus pés cansados

De tanto caminhar errado.


Há o que ainda amar alí adiante,

Há...

Há o que ainda florescer. 

23 de abr. de 2022

 



Ainda que sem existir,

Em algum sonho,

Você vem ao encontro,

E ilumina,

O que de Belo insiste em não partir.


E meu coração cansado

Reflete esse lume vago 

Que se dissolve sobre o solo faminto 

Por onde caminham displicentes utopias,

Antigos adeuses e sonhos sem voz.


Quando desperto então há um resquício de calor

Por entre os dedos feridos por cavar a terra quase estéril...

E não que seja o bastante,

Mas esse pequeno sopro de pureza

Ainda é capaz de me fazer sorrir.

17 de abr. de 2022

¹⁶/⁰⁴/²²

 


Não sobrou nenhum ouro naquelas águas em que tanto mergulhamos 

Para dourar recém-memórias com uma falsa aura de eternidade. 

Quando o que sobra dos velhos poderosos feitiços é uma brisa suave que sopra palavras esquecíveis,

A chuva deságua em seguida,

Inclemente, 

Lavando o encanto restante das ruas e telhados. 

Mas como já dito, há sempre um mas. 

E há algo de sagrado na luz morna que vaza por entre nuvens pesadas que quase não se movem no céu...

Ainda me lembro de quando no décimo sétimo outono o grande sonho ergueu-se feito uma muralha no horizonte, uma cordilheira repleta de promessas e penhascos nos quais tantas vezes me precipitei antes de conhecer a paisagem deslumbrante que o cume me daria. 

Então chega a véspera do trigésimo quinto outono... E já não me seduz mais a imensidão gélida acima, tão acima de mim. 

Eu contorno, procuro por pontes, riachos, flores pelos caminhos e janelas. Caminho com mansidão e esperança.

Eu me curo nas águas dos meus olhos e sorrio pelo esforço dos jardins em se preparem para mais um inverno que logo virá.

E vejo que já não há um destino, mas apenas esse caminhar, enfim suave, sereno...

O caminhar que é, finalmente, o bastante.