17 de abr. de 2022

¹⁶/⁰⁴/²²

 


Não sobrou nenhum ouro naquelas águas em que tanto mergulhamos 

Para dourar recém-memórias com uma falsa aura de eternidade. 

Quando o que sobra dos velhos poderosos feitiços é uma brisa suave que sopra palavras esquecíveis,

A chuva deságua em seguida,

Inclemente, 

Lavando o encanto restante das ruas e telhados. 

Mas como já dito, há sempre um mas. 

E há algo de sagrado na luz morna que vaza por entre nuvens pesadas que quase não se movem no céu...

Ainda me lembro de quando no décimo sétimo outono o grande sonho ergueu-se feito uma muralha no horizonte, uma cordilheira repleta de promessas e penhascos nos quais tantas vezes me precipitei antes de conhecer a paisagem deslumbrante que o cume me daria. 

Então chega a véspera do trigésimo quinto outono... E já não me seduz mais a imensidão gélida acima, tão acima de mim. 

Eu contorno, procuro por pontes, riachos, flores pelos caminhos e janelas. Caminho com mansidão e esperança.

Eu me curo nas águas dos meus olhos e sorrio pelo esforço dos jardins em se preparem para mais um inverno que logo virá.

E vejo que já não há um destino, mas apenas esse caminhar, enfim suave, sereno...

O caminhar que é, finalmente, o bastante.

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