Três anos para uma década de adeus.
Tudo já se foi, esvaiu, escorreu ladeiras abaixo junto ao silêncio para mergulhar em uma escuridão indecifrável.
Em raros momentos, aqueles tempos sublimam-se, liquefazem-se, e chovem sobre a terra castigada. Uma rega rápida, vã, sobre o jardim sedento.
Éramos tão outros, certa vez me disse no momento de mais uma despedida. Porque eu fui dividindo a ruptura, o abandono, a saudade que havia, em pequenos estilhaços menos cortantes e fui enterrando aos pés das flores para não ver. E já não vejo, só meus dedos cortados sabem que estão lá, para sempre talvez.
E tudo isso é porque você às vezes encontra um caminho para os meus sonhos e sem que eu abra a porta você volta para dentro, como uma assombração que não precisa de chaves.
Mas eu não temo... As velhas ruínas são castelinhos de areia desfeitos por ondas agora calmas diante dos novos escombros, e já ninguém pode se dar ao luxo de sofrer por dores bonitas.
Os olhos não secam, os estômagos rugem, o medo cavalga livre pelas ruas que não podem mais ficar vazias, a mentira ainda vence quase absoluta.
E você aqui por um fragmento de instante ou de loucura... ainda maior, com mais luz e beleza, como se a casa ainda fosse sua, como se os lençóis baratos ainda pudessem receber seu corpo.
E quando a claridade da manhã enfim penetra afugentando os outros fantasmas, esses sim reais, sua imagem vai desbotando junto ao vazio e deixando apenas este pequeno e tolo elo.
"Éramos tão outros", você dizia...
E eu só pude concordar, escondendo que ainda sou o mesmo, só que sem aquela bonita capacidade de voar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário