7 de jul. de 2021

07/07/2021

 


Adélia e Cora passeiam pelas folhas vermelhas e caídas da tarde;

Não bem elas, 

Seus versos.

Eu suspiro...

"Desejo de beleza", me sussurra...

É sim, Dona Adélia.

É uma fome estranha que não passa, um vazio que não se preenche é nunca. 

A alma insaciável, desiludida,

Vivendo um pouco menos do que gostaria. 

As folhas como fogo despencando pela estação e pela estiagem são alguma coisa... 

Como o amor fora alguma coisa, como o adeus fora alguma coisa, como o medo e a alegria foram alguma coisa. 

E a gente aqui, gente besta, sem muito brilho, tentando ser alguma coisa também. Insistindo.

Sendo isso que parece pouco, mas é até que muito: gente.

Pouco depois da primeira e única estrelinha dourada no caderno de caligrafia pela letra bem feita, veio Cora com seus escritinhos, e eu me lembro que ela lembrava de um bolo pesado e pastoso, e que pra mim foi esse o primeiro gosto que a poesia teve e foi esse o gosto dela pra sempre.

Da mesma forma, a vida... Grossa, densa, pastosa.

E ansiamos, ansiamos, e só comemos também uma fatia tão delgada, tão insossa, antes dela ir pro alto do armário, impossível que só, 

E a gente aqui, crianças molengas querendo mais, mais,

Mas a vida fica lá quase intacta pro café das visitas, 

Fica só pros outros, 

A gente vai e fica e se conforma, fazer-o-quê,

Sem reclamar,

Sem blasfêmia.

E o sol se põe enfeiado, como é difícil de ser,

Contudo, eu sou também o homem de Cecília, 

O pobre com um balde regando o jardim para que não morra por completo de secura. 

Por isso os hibiscos bradam em cores exuberantes, mesmo abaixo de um céu de uma palidez amarronzada feia de dar medo,

Enquanto fico pensando que quem me dera a fé de uma, a força de outra e a doçura da última... Ou ainda, meu Deus, quem me dera esse olhar simples e emocionado,

Que torna mesmo as coisas mais banais,

Coisas santificadas.

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