27 de abr. de 2023

Sinais da estrada

 


Os sinais pela estrada dizem que ainda estamos distantes de casa 

Velhas memórias e velhas feridas

Que não partem

Nunca partem

Também 

Os pés cansados em sapatos ruins reclamam do caminho infindo 

Só o coração ainda canta

Uma melodia fraquinha, delicada 

Repleta de notas de uma esperança quase boba

Mas a noite que se achega após a tempestade não deixa de ser bonita e perfumada 

E já não há pressa 

Há tempo de observar nuvens esparsas onde talvez ainda repouse algum anjo em justo sono 

Há tempo de admirar um ou outro jardim que resiste a florescer

Quem sabe dizer ao certo se são passados os tempos insanos 

Já que nas almas pelo trajeto vejo tantas máculas

Tantos adeuses 

Tantas lágrimas?

Quem sabe dizer ao certo quanto sobrou de nós? 

As respostas todas pairam distantes

Como a luz do poente que se rende à madrugada próxima 

Por um instante eu absorvo então a paz de um santo silêncio enquanto sigo

Lentamente

Sem parar

Em minha própria direção.