2 de abr. de 2023

A fortaleza



Meu coração 

Como uma fortaleza fria 

Vasta 

Vazia 

O vento soprando pelos corredores 

A luz ínfima penetrando pelas frestas 

Pelas rachaduras 

Filhas do tempo 

Pelo chão

Restos de tempestade

De passado 

De cansaço 

De presente

Do futuro 

Que não alcanço 

Pelas paredes 

Retratos de dias ancestrais 

Sequelas 

O cheiro rude de memórias corroídas 

Mas então 

Você 

E a leveza

E a doçura

Vendo beleza em meio ao caos

Vendo grandeza na quase plena escuridão 

E assim suas mãos firmes 

Tateando 

Girando velhas chaves 

Destravando fechaduras

Abrindo uma janela 

Então uma porta 

E mais outra

Sorrindo

Cantando 

Anunciando 

Observando com olhos que brilham 

Algo de sagrado na construção antiga

Por todos esquecida 

Logo

Um sopro de vida 

Ao âmago partido 

Congelado 

Que lentamente se aquece 

E promete enfim

Relembrar-se da vida

E

Alvorecer uma outra vez.