23 de abr. de 2023




Eu te observei abrindo aquele portão 

Depois de tantos anos 

De tantas vidas que só você viveu 

De tantas batalhas que só você perdeu e venceu 

E te vi novamente de olhos cheios de esperanças 

Quase forte o bastante para ignorar

Todas as tantas vezes

Que iguais a essa vez

Foram proferidas palavras encantadas 

Feitiços sutis dissolvidos em pequenos gestos que 

Como que por mágica 

Sempre deixam de existir 

E caminhou então pela rua escura 

Abaixo de uma chuva leve

Ignorando os alarmes 

Ignorando as canções tristes que já começavam a tocar na sua mente

Ao ponto que 

Em um instante de sonho 

Ousou um salto olhando para o abismo repleto de belas cores e doces promessas 

Mas instantes antes da precipitação

Olhou uma última vez o horizonte 

E as cantigas fascinantes vindas do abismo começaram a cessar 

Como sempre

Sempre

Cessam

Olhou então o horizonte...

E toda uma vastidão de vida ainda se esparramava por todos os lados 

E viu o próprio reflexo pelas nuvens e campos 

Viu estilhaços da própria alma bailando pela atmosfera 

Sentiu o perfume dos tempos que ainda virão 

E pensou que talvez 

Talvez 

Não fosse necessária uma nova queda 

Uma nova memória partida 

Para entender que 

Mesmo diante de toda sua imperfeição

Mesmo diante de todos seus pecados

Antes de qualquer salto 

Sentimentos verdadeiros colocariam asas em suas costas 

E não espinhos abaixo dos seus pés