Há algo de santificado na ventania que aos poucos desnuda os velhos ipês e os prepara para a floração no setembro que se aproxima.
E é apenas o vento também a acariciar os traços perfeitos da escultura divina que silenciosamente parece flutuar junto às folhas que dançam graciosamente no ar.
E nem é tanta a claridade que trazem tais pequenos fragmentos de beleza em meses tão áridos, fragmentos que velozmente se desfazem sozinhos, mas eles abrem um pequeno portal para os dias em que a cidade amanhecia mergulhada em uma bruma leitosa e o coração, mais que pulsar, quase que cavalgava embebido de utopias e do perfume dos alecrins do campo.
Agora, há o sol inclemente e ao mesmo tempo que gentil.
Sob a sombra generosa da monguba afrente do antigo santuário, o artista prepara suas palavras para o atento e escasso público.
Eu sorrio pela arte resistindo como as últimas folhas daqueles velhos ipês nesses tempos tão agrestes.... Parece, olhando assim, meu Deus, por um instante, que a vida volta para aqueles seus antigos bonitos trilhos.
E o sacrifício do artista que se contorce com seus velhos e sujos figurinos, tentando através do seu suor e alma alcançar e tocar aqueles poucos olhares que lhe seguem os movimentos, emociona aquele que em momentos assim quase se vê como um poeta por ainda conseguir pescar esses pequenos milagres no início das tardes.
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