27 de dez. de 2023

27/08/23


 Até mesmo agosto com toda sua eternidade começava a chegar a um fim

Deixando as avenidas forradas com as flores de ipês brancos e amarelos

De longe, o tempo assusta, imenso e selvagem 

De perto é uma dama requintada, de perfume doce e gestos nobres 

E ainda sento ao seu lado

Peço que me conte algumas histórias sobre o que foi e sobre o que virá

E gosto quando ela fala, quando sorri, quando aponta o caminho 

E temo quando ela silencia e fita o horizonte com um olhar imóvel

Já não cobro tudo o que de mim ela levou 

Mas agradeço por tudo o que me trouxe 

Repito a ela 

Como disse o poeta

Em mim

Nada é extinto ou esquecido 

Não por completo 

E ela suspira com um sorriso complacente

Não sou o pior dos seus filhos, talvez 

Eu penso 

Ainda espero com paciência o florescer anual das orquídeas 

Ainda tiro o pó com delicadeza de todas as lembranças que apenas repousam nas prateleiras da memória

Ainda acordo em algumas noites pedindo perdão pelos meus tantos pecados 

E eu a temo... E como 

Seu passar lento, gotejante

Levou sem esforço impérios, nações, eras 

Que se dirá de mim...

Um cisco ao vento 

Não mais que isso

Mas hoje sento ao seu lado sem dor 

Em uma oração silenciosa 

Ainda é agosto 

Ainda há esperança 

E chove 

O jardim floresce 

Talvez eu também.