Até mesmo agosto com toda sua eternidade começava a chegar a um fim
Deixando as avenidas forradas com as flores de ipês brancos e amarelos
De longe, o tempo assusta, imenso e selvagem
De perto é uma dama requintada, de perfume doce e gestos nobres
E ainda sento ao seu lado
Peço que me conte algumas histórias sobre o que foi e sobre o que virá
E gosto quando ela fala, quando sorri, quando aponta o caminho
E temo quando ela silencia e fita o horizonte com um olhar imóvel
Já não cobro tudo o que de mim ela levou
Mas agradeço por tudo o que me trouxe
Repito a ela
Como disse o poeta
Em mim
Nada é extinto ou esquecido
Não por completo
E ela suspira com um sorriso complacente
Não sou o pior dos seus filhos, talvez
Eu penso
Ainda espero com paciência o florescer anual das orquídeas
Ainda tiro o pó com delicadeza de todas as lembranças que apenas repousam nas prateleiras da memória
Ainda acordo em algumas noites pedindo perdão pelos meus tantos pecados
E eu a temo... E como
Seu passar lento, gotejante
Levou sem esforço impérios, nações, eras
Que se dirá de mim...
Um cisco ao vento
Não mais que isso
Mas hoje sento ao seu lado sem dor
Em uma oração silenciosa
Ainda é agosto
Ainda há esperança
E chove
O jardim floresce
Talvez eu também.
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