5 de dez. de 2022

 


São versinhos simplórios por aquilo que não se perdeu 

Pelas chuvas mansas abrindo o caminho do verão 

Pelos presépios montados nas antigas praças anunciando a vinda do salvador

São palavras sem tanto valor 

Sem tanto sabor

Mas firmes o bastante 

Para atiçar as brasas que repousam ainda

Ainda...

Em algum canto morno do peito 

Ante a um sorriso impecável 

Uma miragem quase tangível 

Um sentimento impossível

Uma construção de cristal 

Sobre a areia macia da ilusão 

Ainda assim

Falam-me em batalhas

Batalhas tolas

Enquanto fito o horizonte

Em que estouram relâmpagos silenciosos 

Cujo estrondo virá depois 

Nos dias em que os olhos pesarem 

As mãos tremerem sem quem as segure 

E os pés não escalarem as árvores para pendurar luzes de natal 

Mas hoje

Hoje a tempestade desliza longínqua

Inofensiva 

As mãos esculpem com firmeza mais uma despretensiosa relíquia 

A ser esquecida na prateleira das longas horas

O caminhar é certeiro para longe daqueles estranhos dias inglórios 

E o olhar ainda reluz 

Mesmo que frágil e bruxuleante

Desafiando a profunda noite escura. 

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