São versinhos simplórios por aquilo que não se perdeu
Pelas chuvas mansas abrindo o caminho do verão
Pelos presépios montados nas antigas praças anunciando a vinda do salvador
São palavras sem tanto valor
Sem tanto sabor
Mas firmes o bastante
Para atiçar as brasas que repousam ainda
Ainda...
Em algum canto morno do peito
Ante a um sorriso impecável
Uma miragem quase tangível
Um sentimento impossível
Uma construção de cristal
Sobre a areia macia da ilusão
Ainda assim
Falam-me em batalhas
Batalhas tolas
Enquanto fito o horizonte
Em que estouram relâmpagos silenciosos
Cujo estrondo virá depois
Nos dias em que os olhos pesarem
As mãos tremerem sem quem as segure
E os pés não escalarem as árvores para pendurar luzes de natal
Mas hoje
Hoje a tempestade desliza longínqua
Inofensiva
As mãos esculpem com firmeza mais uma despretensiosa relíquia
A ser esquecida na prateleira das longas horas
O caminhar é certeiro para longe daqueles estranhos dias inglórios
E o olhar ainda reluz
Mesmo que frágil e bruxuleante
Desafiando a profunda noite escura.
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