Uma imensa sala escura
E um pobre acendedor de velas
Com fósforos nas mãos
De passos arrastados
Cansados
As acendendo
Uma
Depois outra
E mais outra
E a escuridão maciça
Por vezes tangível até
Quase não se acanha
Mas cede
Pouco a pouco
Ao esforço tolo e persistente
Do velho homem
Então que
Como em quase todas noites
Algo
Alguém
Qualquer coisa das sombras
Abre as janelas
E penetram as mornas e violentas
Rajadas de vento que precedem as tempestades
Todas as suas velas se apagam
E o homem teme o breu
O silêncio com seu assovio cortante
A espera que nunca se finda
Uma lágrima escorre do canto esquerdo
Seus olhos se fecham
Um suspiro profundo
É preciso então
De novo e mais uma vez
Reacender suas velas
Afugentar a noite
Proteger-se das trevas
Toma assim seus fósforos e caminha até a janela
É preciso que seja trancada com mais força dessa vez
Seus fósforos estão no fim
Suas forças quase extintas
Mas antes...
Antes lança um olhar ao céu
E então outras lágrimas escorrem
Agora do canto direito da sua face
E entende
Só com todas as luzes apagadas
Só com as janelas abertas
É possível ver como brilham as estrelas.
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