Estamos longe do fim, pois ainda me lembro
Hoje o sol se deitava da mesma forma, nem mais nem menos encantador
Mas havia, eu via...
Algo além do ordinário correr das horas
Pelas esquinas esburacadas e pelos antigos pátios
As pessoas que passavam brilhavam
Emanava delas algo de cintilante
Como o ouro se destacando no cascalho abaixo de águas rasas
Eu deveria sentir medo, alerta a mente
São dias estranhos, densos, imprecisos
Eu deveria sentir medo
E senti, e sinto
Mas vejo algo que talvez seja amor em todas essas coisas miúdas e preciosas que o tempo vai moendo como um moinho feroz e despejando na atmosfera das vidas
Só que ainda há estrada afrente
Ainda há essa claridade meiga
Algumas palavras desengonçadas dançando sozinhas no vasto e vazio salão da alma
Há alguma prece sincera aos anjos que talvez não tenham voado para muito longe
Não estamos perto do fim, pois ainda sonhamos
Quem diria
Ainda sonho também
E no sonho
Há o abraço, a ternura, a cura, o lar
A remissão dos pecados
E pelo chão, pelos muros e jardins
Esparramadas pelo peito
Pelo caminho desse longo túnel com apenas uma vaga promessa de luz ao fim
Há ainda muitas mais páginas em branco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário