4 de dez. de 2022

 


Ainda há 

Quase completamente ocultas entre os estrondos 

Entre as horas velozes 

E dias amargos 

Manhãs de domingo 

Em que o único som é o do vento

Fazendo dançar as folhas 

Fazendo rodopiar as pequenas borboletas amarelas 

Enquanto visitam suas flores 

Ainda há a claridade solar atravessando delicadamente as cortinas 

E é então como se nada doesse 

Como se nada faltasse

E tudo estivesse no lugar em que deve estar 

Em momentos assim eu quase consigo imaginar 

Teu olhar amoroso 

Teu sorriso iluminado 

Protegendo e guiando 

Como o maior dos mestres

Por isso emociona ver as luzinhas anunciando tua chegada

Pelas praças

Pelas ruas

Pelas varandas humildes 

Pelos corações alquebrados

Por isso todas as palavras não bastam

E nem toda poesia 

Descreve a mansidão com que ainda nos acolhe em teu santo abraço 

E enquanto falam em teu nome trajados de ouro

Encarcerados em tempos suntuosos onde não porei jamais os pés 

Eu daqui 

Tão pequeno

Te vejo na chuva que verdeja os campos 

Na força e na gentileza de minha mãe 

Nos sonhos em que caminha também descalço ao meu lado 

Como se eu quase fosse digno de segurar tuas mãos

Como se eu quase fosse digno de ser teu irmão 

Eu te sinto aqui

Dentro desse peito que é repleto de máculas

Mas que um dia 

Eu sei

Também será repleto de Amor. 

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