Apenas outro verão em que desabam os céus
E algumas outras coisas mais
Outro dia semelhante ao anterior
E ao próximo
E eu daqui vendo essa tola criança frágil correndo da chuva
Correndo da realidade que deságua
E encharca seu corpo
Seus pés pequeninos
Seus olhos que deveriam ter algum brilho
Lutando contra o impossível
Como em suas fantasias de menino
Em que nada dói
Em que de suas mãos jorram luzes
Que afugentam a escuridão
Os trovões me lembram de ontem então
Daquela voz conhecida
Antiga
E de suas canções sobre alguém
Cujo jugo é suave e o fardo é leve
Um alguém repleto de perfeição
Mas que é manso e humilde de coração
Um alguém de quem o abraço seria bem-vindo agora
E as palavras que por tantas vezes sobram
Faltam
Ainda que desaguem também
Abundantes
Porque não fertilizam
Não nutrem
Não alcançam
Porque é como se nada nunca jamais
Fosse ou pudesse ser diferente do que é
Mesmo após a chuva
Mesmo após a noite interminável.
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