14 de dez. de 2022



Apenas outro verão em que desabam os céus

E algumas outras coisas mais

Outro dia semelhante ao anterior

E ao próximo 

E eu daqui vendo essa tola criança frágil correndo da chuva 

Correndo da realidade que deságua 

E encharca seu corpo 

Seus pés pequeninos 

Seus olhos que deveriam ter algum brilho

Lutando contra o impossível 

Como em suas fantasias de menino 

Em que nada dói 

Em que de suas mãos jorram luzes

Que afugentam a escuridão

Os trovões me lembram de ontem então 

Daquela voz conhecida 

Antiga 

E de suas canções sobre alguém 

Cujo jugo é suave e o fardo é leve

Um alguém repleto de perfeição 

Mas que é manso e humilde de coração 

Um alguém de quem o abraço seria bem-vindo agora

E as palavras que por tantas vezes sobram

Faltam

Ainda que desaguem também

Abundantes

Porque não fertilizam 

Não nutrem 

Não alcançam 

Porque é como se nada nunca jamais

Fosse ou pudesse ser diferente do que é

Mesmo após a chuva 

Mesmo após a noite interminável.