11 de dez. de 2022

 


Eu não sei disso de não ter o que dizer se por dentro se faz tanto

E quando é assim 

Algo me faz pensar que todos os poetas

Vivos ou mortos ou que ainda virão 

Reunidos com suas mentes borbulhantes

Não seriam tão valiosos quanto uma flor que desabrocha 

Ou aquela visão do sol que se deita 

Sem barulho e arrogância 

E eu os vejo passando pela vida

Não os poetas

Os outros tolos

Como se tudo isso nada fosse

Isso

O ipê profundamente verde 

Afrente do céu azul azul

Manchado de tufos brancos 

Restos das últimas tempestades 

O olhar despindo a forma

Mergulhando além da carne 

Da pele pelos e apelos

Buscando a alma 

Talvez frágil talvez magnânima

E como Adélia

Também só melhoro quando chove

E se abrem as porteiras para eu ir vasculhar dias passados 

Com meus pés na lama 

Roupas encharcadas de memórias 

A procura de alguma saudade bonita 

Um vintém de infância

Uma promessa quebrada 

Uma esperança perdida 

E aí mulher me atrapalha 

Mas é pra mostrar os passarinhos 

Mais belos que a alegria cansativa dos meninos 

O telefone toca e ela se vai 

E volta 

Falando e falando tanta coisa sem sentido

Que eu até me esqueço do que é grave 

Do que dói 

Do que falta 

Do que me fez perder os cabelos 

E os amores todos

Então percebo 

Outra flor sem raridade desabrochou

Neste instante 

Através das mãos pouco belas

E nada santas.

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