Eu não sei disso de não ter o que dizer se por dentro se faz tanto
E quando é assim
Algo me faz pensar que todos os poetas
Vivos ou mortos ou que ainda virão
Reunidos com suas mentes borbulhantes
Não seriam tão valiosos quanto uma flor que desabrocha
Ou aquela visão do sol que se deita
Sem barulho e arrogância
E eu os vejo passando pela vida
Não os poetas
Os outros tolos
Como se tudo isso nada fosse
Isso
O ipê profundamente verde
Afrente do céu azul azul
Manchado de tufos brancos
Restos das últimas tempestades
O olhar despindo a forma
Mergulhando além da carne
Da pele pelos e apelos
Buscando a alma
Talvez frágil talvez magnânima
E como Adélia
Também só melhoro quando chove
E se abrem as porteiras para eu ir vasculhar dias passados
Com meus pés na lama
Roupas encharcadas de memórias
A procura de alguma saudade bonita
Um vintém de infância
Uma promessa quebrada
Uma esperança perdida
E aí mulher me atrapalha
Mas é pra mostrar os passarinhos
Mais belos que a alegria cansativa dos meninos
O telefone toca e ela se vai
E volta
Falando e falando tanta coisa sem sentido
Que eu até me esqueço do que é grave
Do que dói
Do que falta
Do que me fez perder os cabelos
E os amores todos
Então percebo
Outra flor sem raridade desabrochou
Neste instante
Através das mãos pouco belas
E nada santas.
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