O incomum vento frio num domingo de carnaval com avenidas vazias parece trazer do passado recente o perfume contido de poesias que não puderam florescer dada a aridez da realidade.
E enquanto eu mais uma vez vago por caminhos em que tanto já deixei meus sorrisos e minha lágrimas, eu penso na possibilidade de não pedir mais para vencer qualquer sentimento que queira se apossar do meu coração.
Porque este mesmo coração que traz à tona sentimentos que não têm mais raízes, tornando-o ridículo a qualquer olhar mais lúcido, é o que me faz levantar a cabeça para o céu onde o sol começa a dourar as nuvens, precedendo a promessa de uma noite menos escura que as anteriores até aqui.
E aqui, sobre uma velha ponte observando os carros que passam apressados, eu me lembro de quando pedi que fossem levados de mim o medo e a vergonha, mas talvez sem todas as minhas partes eu não entenderia e sentiria tão puramente as canções que falam sobre o exílio e sobre a cura.
É possivel que você doa de alguma forma para sempre, junto de todas as outras coisas que também foram perdidas ou libertadas e também doerão para sempre, mas volto a dizer que pelo menos por agora é uma dor que tem quase alguma beleza...
Já deita a noite à frente dos meus passos e as luzes da cidade parecem chamar delicadamente por meu nome, e eu nunca deixo de responder,
Embora às vezes eu não saiba quais últimas palavras dizer,
Embora, definitivamente, eu nunca saiba quais últimas palavras dizer.
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