Quando a chuva silencia todas as ruas e faz o tempo adormecer exausto da própria crueldade, a memória vaga por florestas umedecidas de saudade até chegar aos velhos dias onde não havia medo o bastante para sufocar o florescer de jovens ilusões.
Eu tinha 17 e uma infinidade de erros a serem cometidos pela frente... E tudo era perdoável porque éramos jovens e tolos o bastante para não pensar ainda em consequências.
Sei que nada nunca foi tão reluzente quanto a nostalgia pinta, mas eu ainda me lembro dos tempos antes das constantes ameaças de fim dos tempos, e era possível procurar pelos olhares algum brilho e paixão.
Nem tudo precisava doer tanto e o tempo todo, nem tudo precisava ser uma espécie de ameaça ininterrupta.
Então os anos voaram e eu caminhava sozinho através da tempestade. Eu tinha o olhar fixo no horizonte onde podia ver um fio azul de esperança, mesmo que nada lá houvesse de fato. Até que você me ofereceu abrigo. Calçou meus pés, cobriu meus ombros. E eu via a tempestade caindo diante dos meus olhos sem me molhar, sem ter frio, porque sentia outros dedos entre os meus dedos.
Mas eu via as rachaduras pelas paredes; eu sempre vejo; eu ouvia o vento levando os telhados céu afora e pedi que as portas se abrissem antes de tudo desabar.
Então eu saí.
Então eu desabei.
E todas as flores que plantei depois de todas as despedidas não resistiram bem, logo se despediram também.
E todos os pedidos de socorro não foram atendidos por serem apenas sussurros perdidos no imenso barulho mais angustiante das horas.
E eu retrocedi...
Apenas ouço gotejar insistente lá fora que soa como um lamento;
Por dentro, as canções, os poemas, os pequenos inúmeros ferimentos me lembram que eu retrocedi...
Talvez seja isso crescer.
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