Embora tudo, não deixou de haver nas manhãs de fevereiro um azul pacífico no céu.
Talvez não faça muito sentido, mas o sol incidindo e fazendo brilhar as folhas das palmeiras que dançam no vento me faz pensar em um recomeço.
Não que se anunciem dias mais brandos; os rostos cobertos, os gestos temerosos, as distâncias, não nos permitem esquecer por mais do que instantes da aspereza e da fragilidade da vida. E a mente ainda se parece com uma sala empoeirada, abarrotada de móveis velhos e desalinhados... e dói, e cansa, e dá medo o peso dos dias.
Mas se achegam palavras doces de uma alma gentil, algo como um agradecimento pelo que fui capaz de sentir, de dizer, de florir. E com isso os olhos merejam por um segundo; os olhos se tornam as janelas da sala escura e sombria, e se abrem para a luz suave do dia.
O peito se aquece.
Em minhas mãos são entregues papéis coloridos, cheios de sonhos rabiscados, cheios de sentimentos coloridos, cheios de vida e juventude, e eu descubro que recomeços podem ser singelos, delicados, silenciosos.
E abro ainda mais os olhos, as janelas, e deixo a claridade acolher os cantos da suja sala escura. Observo suas relíquias, seus cacos, os tantos objetos espalhados pelo amor, pelo descaso, e amo profundamente tudo o que essa luz do entardecer toca.
E ali, quase esquecida em um canto, meio oculta por um tanto considerável de sonhos partidos, reluz um pequeno punhado de esperança, um tanto tímido demais para abrandar todo o desamparo dos dias, mas um tanto suficiente para me fazer receber a jovem noite com um sorriso no rosto.
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