Na rocha fumegante que se fez
o peito,
A bala, a espada, o soco, o
sopro,
Não penetram.
Apenas a calmaria fará morada;
É bem-vinda, respeitada,
Como a palavra doce,
oferecida sem contrato,
Sem medo, sem destrato.
O afago belo, discreto,
distante.
Não se finca no espírito,
Como flecha envenenada de
mentira e ilusão,
A indiferença friorenta, tão
abundante.
Transpassa. Fere e passa.
Parte. E no túnel de angústia
deixado,
Flutuam borboletas brancas e
delicadas,
Despreocupadas de sua
transitoriedade.
É o fim, não é? E eu enfim
agradeço.
O que poderia ser ceifado, o
foi,
Sem misericórdia.
O pranto que poderia
escorrer,
Brando e morno,
Desaguou,
Como cachoeira bonita de
cerrado.
E como após todo fim: começo.
Cavo a terra pedregosa com
mãos nuas.
O sangue dos meus dedos
fertiliza o solo árido.
Lentamente aprofundo o
alicerce de nova esperança.
Após as tempestades levanto
as rosas encharcadas.
Após a queimada aguardo os
novos brotos.
Após a morte, respiro
novamente.
De "Tempos Inversos"
https://www.clubedeautores.com.br/backstage/my_books/192025
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