6 de nov. de 2014

Sobreviventes


Eu posso sentir o perfume da dor dos salgueiros
golpeados na tarde chuvosa de primavera.
E embora ainda não aceite, eu compreendo as razões para o adeus.

Já na manhã, uma luz macia deita sobre a terra ainda úmida.
As flores vão tomando de volta a vitalidade que a estiagem levou.
O coração ainda tem seus cortes profundos, mas bate novamente.

Certo dia amanheceu com a chegada do Senhor dos Sentimentos.
E não muito tempo depois, outro dia amanheceu com a despedida.
Não sei se foi suicídio ou assassinato, mas morri naquele último dia.

A beleza indescritível dos dias traz mórbida paz.
Não ouço os gritos, os gemidos,
Mas eles me tocam, me lambem.

E eu ignoro o sonho devastado, a fragilidade da minha carne;
Eu ignoro o que um dia foi meu oxigênio;
Ignoro minha falta de ar.

Há dor maior mais adiante, então me acalmo por momento,
E assim como as flores, faço amor com o sol.
A vida que ressuscita não é a mesma, mas é vida.

Agora que sou o algoz que já me foram,
Degusto minha perplexidade em calmaria.
Ainda não colocarei um ponto final nesta linha


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