2 de nov. de 2014
Fim da noite
Ninguém mais ouvirá a melodia das flores enquanto desabrocham
Ou sentirá o sabor dos ventos da madrugada fresca.
Ninguém mais trará asas e raízes
Ou encantos e realidades. São os reflexos do fim.
São as últimas horas do velório da Esperança.
Já deslizaram todas as lágrimas. Já derreteram todas as velas.
Calam-se os gritos ressentidos, sobram gemidos ignorados.
Não se ouve mais nenhuma oração.
Todos partem quando chega a chuva, mas eu continuo imóvel.
Gentilmente o Tempo me chama lá de fora:
"Venha, é cedo, há vida!"
Eu sorrio e aceno. Mas não me levanto.
Eis que vejo a Esperança sentada ao meu lado.
Tenso e confuso arrisco diálogo e reaproximação.
Mas ao tentar tocá-la me vejo novamente distante...
Estou deitado entre as flores.
A Esperança é que chora por mim nos últimos instantes.
Nosso amor sempre foi o mais belo dentre todos.
Observo sua dor e desespero ao acompanhar meu sepultamento.
É o fim da noite estrelada, dos sonhos meninos, da força indescritível.
Repouso na terra, uma Mãe macia.
A Esperança assiste resignada minha decomposição.
Apenas o Coração não se dissolve no chão escuro.
A Esperança o colhe com doçura, e vai para onde exista outra manhã.
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