Não preciso pedir que ignore as palavras que lanço ao fantasma que restou daquilo que um dia foi maior que quase tudo.
Tudo isso, qualquer coisa sobre isso, é essa brisa suave que move as cortinas e desaparece por si mesma.
Apenas um murmúrio da memória que logo se cala...
Mas eu imagino seu caminhar, seu silêncio, ainda como aquela criatura nobre demais até para o chão abaixo dos próprios pés.
Essas letras que gotejam dos dedos, do coração, deixaram de procurar sentido há algum tempo, deixaram de comover desde que aquela porta se fechou, talvez para sempre.
São tempos frágeis, de vitórias modestas, de expectativas vitais, de fanáticos pelas ruas, de dias longos e sorrisos irreais.
Então escavo a alma, como um artista pouco hábil lapidando uma pedra de pouco valor, buscando algum brilho oculto, algum reflexo raro.
E assim volto sempre aos mesmos caminhos, na esperança de alguma relíquia esquecida entre os escombros,
E assim volto sempre aos mesmos templos, na esperança de ouvir a voz de algum anjo ainda a entoar alguma sagrada canção.
Nada do que foi será novamente, como já foi escrito em algum verão menos cruel,
Mas ficaram as marcas dos dilúvios, das estiagens, das madrugadas de uma escuridão muito profunda, da ferida cicatrizada com o toque de um ferro em brasa.
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