Tão pouco deslumbre para mais essa correnteza quase descabida de linhas e linhas.
Páginas e páginas rumo ao fogo simbólico do esquecimento.
Tão melhor já falaram desses ventos duros de inverno, desse céu azul enfeitado com fitas brancas de nuvens, desses ipês que florescem de forma tão bela e fugaz.
Tão melhor já disseram sobre a saudade, sobre o olhar fixo em um horizonte sem grandes encantos, e sobre a angústia de tempos incertos, e sobre os sonhos levados como poeira e cinza pela brisa.
E se for tudo solidão?
O frio, o vento, a noite em pleno dia, o silêncio cortado de fora a fora por uma nota ruim e ininterrupta?
E se for tudo a solidão que a tudo devora?
E a utopia em parir sílabas e sílabas, seja o alimento pouco nutritivo dessa besta-fera que nunca se sacia?
Se já não te espero, pelo que espero?
Os campos, talvez...
Um silêncio puro, enfim.
A luz que realmente guie.
Sobre o concreto dançam os mesmos chorões como fora há anos.
Mas há anos eu não estava com os pés em uma armadilha que fazia temer passado e futuro.
Em mais um pouco até o sagrado e gélido olhar despencará em um abismo de profundidade desconhecida; também os tapetes, as roupas, as canções, os arbustos de flores roxas, o abraço no ar, tudo em queda livre...
Sagradas e já triviais reminiscências mergulhando, mergulhando...
Então já é tarde, o vento finda, os fantasmas enfim adormecem.
E mesmo depois te tanto, nenhuma poesia se achega, mas passa ao longe, acena, sorri, eu faço uma reverência em respeito.
E adormeço também.
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