4 de jun. de 2021

05/06/2021

 


Quando tudo o que sobra para ferir o silêncio da noite é um assovio fino e cortante aos ouvidos junto das pétalas despencando das árvores até o chão trincado do jardim, 

A memória reacende velhos castiçais tristes, enferrujados, e vasculha cantos íngremes da alma em busca de reles lampejos dos tempos em que as ruas não eram vazias e proibidas e a alma media com os pulsos do coração as centenas de quilômetros que por algum tempo eram a única coisa a impor uma separação. 

Sete anos de penumbra por sete meses de luminosidade...

E eu regresso de uma jornada infausta, fatigado, só, a caminho de casa com os pés ainda enlameados, carregando um misto de gratidão pelos danos não terem sido mais profundos e de culpa pelas tantas rendições vergonhosas em batalha. 

Nada permanece intacto ou ileso dentro ou ao redor, mas novos anjos se achegam enquanto observo os antigos se calarem para sempre. 

Minha voz também já não será mais ouvida por eles. Liberto-os das minhas velhas súplicas, das minhas velhas cruzes.

Mas não irei me esquecer, não poderia me esquecer, que um dia falei das flores... E do puro azul sei que minaram algumas lágrimas de boa emoção. 

E eu regresso...

O peito ainda guarda as chaves do velho lar, e lá eu me revejo, e me reencontro, e me perdoo.

E sozinho, me amo.