Pelas frestas abertas após as quedas, escuridões sorrateiras penetram.
Sei que um delicado e rápido toque da realidade poderia estilhaçar todo aquele reino mágico construído sobre o alicerce frágil de milhares de palavras simplórias e sonhos desgastados.
Mas eu ainda tenho a voz dos anjos sussurrando alguma docilidade por entre as horas das tardes amargas, tenho o riso fácil deles mesmo diante das lágrimas inevitáveis dos dias; tenho, mesmo que não pareça, esperança.
E perambulo por memórias alheias, fingindo por um instante que estou a uma distância segura dos fantasmas que também não deixam de me observar.
Perambulo pelas minhas memórias... E volto e volto, recolorindo e retemperando imagens e sons que já se perderam todos pelo tempo, mas que não podem ser substituídos porque nada se pôde viver.
E aos poucos as frestas vão se fechando mais uma vez, até o próximo solavanco, até o próximo susto. Mas se fecham. Antes que a alma se torne por completo apenas noite e inverno.
.
#ruasdedomingo
Nenhum comentário:
Postar um comentário