O primeiro livro que escrevi, em 2010, se chama "Em meu Jardim Secreto...", cujo o eu-lírico é um 'cultivador de sentimentos'. A escrita desde então não me abandonou mais, embora tenha se ausentado por alguns períodos. E passados alguns anos, pude começar a cultivar um jardim físico, literal, que assim como o processo da escrita, em alguns momentos recebeu mais atenção, em outros, menos.
O que quero dizer é que todas as coisas estão entrelaçadas, o jardim, o sentimento, a palavra.
Foi ali, cuidando da terra, tirando uma a uma cada pedra para poder cultivar e fertilizar a terra que chorei pelo último grande amor; foi ali plantando roseiras e ferindo as mãos que escrevi poemas simplórios sobre saudade, esperança e medo; foi ali regando as flores em tempos de estiagem que orei pedindo tréguas, que agradeci pelos milagres; foi dali enquanto semeava, cuidava, plantava, que senti sentimentos preencherem e esvaziarem meu coração; foi dali que esperei o mundo voltar a girar após alguns anos, mesmo que nunca mais como já fora.
Passado tanto tempo então, eu, o jardim, as palavras, crescemos, talvez. Mas falo agora da mesma forma que falava o menino de 12 anos quando rabiscava um caderno velho, presente da irmã, contando sobre seus dias na escola, suas brincadeiras na rua, sobre seus segredos já pesados demais para um garoto de ombros tão pequenos. Falo para mim, para contar pequenas histórias de uma vida que é pouco vivida, mas que por vezes me transborda de emoção. Falo como o menino e para o menino, a quem sempre peço perdão, a quem hoje seguro as mãos para que não enfrente mais nenhum fantasma completamente sozinho.
Falo para lembrar... Para permanecer, de alguma forma. Para não esquecer, mesmo do que foi pouco, simples, escasso.
No fundo, de casa, da alma, o que tento fazer florescer é meu peito. Por ventura, quem sabe, algum outro. Para que algo de belo resista aos tempos tempestuosos, onde vemos a claridade sempre distante, distante.
Até quando, não sei.
Até quando o jardim, o sentimento, a palavra.
Não sei.
Mas hoje plantei Lírios do Vento, escrevi mais um poema trivial, lembrei que um dia amei...
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