8 de jan. de 2023

A guerra alheia

 


Outra batalha se aproxima. 

Você escuta os tiros, os canhões, os trovões. 

Outra vez o sangue será derramado, diluído na chuva fina de mais um janeiro hostil. 

Não é sua guerra, mas apresente-se ao fronte. 

Não são seus crimes, mas empunhe seu escudo e espada contra a noite, de novo e de novo. 

Aceite sua pena, avance contra os inimigos que não são seus. 

E veja tombarem, espumarem, sangrarem.

Assista, assista, ouça, ouça. 

Engula, aceite, cale.

Silencie, resista, suporte, o golpe já vem. A macula, a facada, o sonho ruindo desde os alicerces. Os trincos, as rachaduras, o desabamento. 

Então erga-se dos destroços, afaste os escombros, espere o novo ataque, o novo grito de socorro, o novo desespero que não tarda. 

Não cessa. Não acaba. 

Levante, avante! 

A trincheira aguarda, o estrondo, a farpa, a lama. 

Não dê as costas, covarde! 

Falta muito para a alvorada,

Falta tudo. 

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