10 de jan. de 2023

Apenas uma vez eu menti...



Cai agora a mesma chuva da meia-noite

Como em outros janeiros seu fantasma circula pela sala

Flutua pelos acordes 

Pelas águas que descem lentamente pela janela 

A janela de onde vi uma estrela ascendente

Para qual hoje estou de costas 

E oculta o céu carregado

Onde nada brilhou da mesma forma novamente 

Talvez pela purgação dos meus tantos pecados 

Talvez pela grosseria e indelicadeza da vida

Em desconstruir meticulosamente cada utopia 

Apenas uma vez eu menti...

Quando eu disse que alguém atravessara aquela porta 

Aquela porta que só você soube como destrancar 

Só você soube como encontrar

Então eu olhei para ela

Ano após ano

Até que ela ruiu

Se desfez como um dente de leão ao sopro 

E nada nunca mais se aproximou desde então 

E eu gritei e criei formas de desenhar com todas as cores possíveis uma dor tão única que nunca nunca nunca partiu por completo e que sempre sempre sempre volta quando a chuva cai ou uma certa canção toca porque nada jamais poderá ser novamente tão imenso como o céu quanto você foi antes de despertar e emergir do pequeno e tolo mergulho naquela nossa preciosa ilusão que não resistiu à grande distância e à amarga realidade.

Novamente, adeus

Novamente, olá

Todas as roseiras plantadas naquele ano já morreram 

E eu fiz versos rasos a outros olhos fingindo não lembrar mais dos seus

E eu fiz orações para todos os deuses mortos e vivos pedindo que o trouxessem ou o levassem de uma vez 

Apenas outra vez eu menti...

Dizendo feito o grande poeta 

Que meu amor se alimentaria do seu amor 

E que se de repente você de esquecesse de mim

Eu o já teria esquecido 

Feito que já nem uma sutil memória consigo ser

Já você 

Continua ocupando mais espaço que todo o céu. 


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