16 de out. de 2015
Irene e Rosálio
Era um amor assim: impossível de ser.
Como todo bom amor que se prese.
Irene, mulher frágil, doente,
Esmurrada sempre pela vida
E pelos homens a quem alugava o corpo.
Rosálio, homem forte, doce como uma criança,
Viajador, cheio de histórias na boca.
Analfabeto, carente de saber.
Irene era a mãe, a mulher amada, a professora
Que Rosálio; até então um Nem-Ninguém;
Encontrou ao vagar para fora da construção cinza,
Mais uma da imensa cidade desconhecida,
De cores desmaiadas, quase mortas.
Rosálio era também Romualdo, para Irene.
Aquele amor que um dia atravessou seu peito feito espada afiada.
"Vem" ouve Rosálio de Irene.
"Preciso de dinheiro..." Pensa.
Há o filho e a velha para alimentar.
Mas Romualdo, Rosálio, digo, não tem dinheiro,
E não tem fome do corpo de Irene,
Ele tem sede de palavras, letras, saber,
E Irene oferece.
Ele encontra cores e aconchego naquele ser sofrido.
Irene não repousa mais nos braços de Rosálio,
Apenas na alma agora,
Nas histórias, nos caminhos que volta a percorrer,
Agora que só.
Virou contador, de coisa vivida e coisa inventada...
"Era uma vez, senhoras e senhores..."
Um amor que nunca existiu,
Por isso nunca se findou.
(Poema inspirado no livro "O voo da guará vermelha" de Maria Valéria Rezende)
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