Primeiramente, tome cuidado com essa luz que vê.
Ela não vem da porta aberta de um coração forte,
Ela vem das rachaduras dum coração que há muito vem se esfarelando.
Tome cuidado com as flores que germinarem graças a essa luz,
Elas foram aguadas com lágrimas salgadas e seu perfume pode estar contaminado.
Fuja dessa luz antes que ela se apague, e seja tarde demais para voltar.
Fuja enquanto a noite não desce, sedutora, e tira sorrindo dos teus olhos o brilho da esperança.
Fuja, porque a ausência de um culpado não inibirá a existência da dor.
A dor... essa meretriz de quinta categoria, espaçosa, mal cheirosa; adornada com brincos, colares e anéis de sorrisos decepados.
Esquiva-te desse coração, que é planta carnívora e faminta...
Esquiva-te e vá direto ao espírito, vá direto à verdade.
Abra as janelas e ligue todos os ventiladores, comece a lustrar os tesouros adormecidos...
No espírito sim, aconchega-te e acalma-te. Pois ele não trai, ele não atua, ele não finge.
Alcança o espírito e de lá, com luvas nas mãos, comece a remendar o coração.
Fragmento por fragmento, caco por caco, peça por peça... até que ele esteja de volta à sua forma original.
Então banha-o em luz de sol, em brisa noturna, em chuva de primavera. Banha-o com sorrisos de crianças, com simplicidade e sabedoria de idosos, com carinho de amigos.
Depois deixa-o descansar por instantes...
Devolva-o ao seu lugar.
Espere.
Ele voltará a pulsar, e a fluir a vida por todos os membros,
bate então na porta, que ela se abrirá.
Adentre agora sem medo, ele está curado enfim, e pronto para frutificar pomares de felicidade.
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