17 de jul. de 2015

Ai!


A nossa carne em suas pedras,
Nossos pés nos seus espinhos,
Nosso sangue em seus cálices de ouro.

E não temos direito aos "ais!"?
Não temos coração em chamas?
Não temos almas em farrapos?

É vergonhosa a lágrima pura
Sincera e humana.
Quente como o Amor que um dia senti?

Não posso?
Não devo?
Não é de bom tom ainda sentir?

Sentir a noite e sua generosa suavidade;
Sentir o corpo em fúria dentro de outro corpo;
Sentir o medo da inevitável partida de tudo, de todos?

Clemência, rogo.
Ao menos a minha dor, tão minha:
Não a faça sentir vergonha.

Jaz todo resto, frágil, passageio, efêmero.
Deixa-me a minha dor menina, tão boazinha,
Aqui acolhida, num âmago já esquecido.

Mas manhã começa outro dia.
E nasce sol, esperança, desabrocha flor.
Amanhã, eu começo de novo.

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