29 de jun. de 2015
Unhas roídas, esperanças milimétricas
A esperança, como as unhas roídas, cresce milímetros por dia.
O suficiente para, como as unhas, ser corroída de novo,
Sendo, em seguida, atiradas ao chão num sopro desdenhoso.
Para isso servem as unhas e a esperança em um homem:
Para serem extirpadas, ocupando as horas vazias da vida que já não reage.
Naquele dezembro, um mês desimportante, unhas e esperanças foram poupadas.
Havia uma direção, mesmo falsa, para os olhos se ludibriarem enquanto o resto passava.
O último suspiro da mais intensa claridade: o amor.
O costumeiro murro da mesma profunda treva: a indiferença.
Depois, o luto cede lugar ao inconformismo crônico; uma dor que é quase um membro.
Quando nada mais houve para provar ou para esperar,
O espírito se rende às suas mesquinhezas:
Libidinoso, carente, sôfrego, exausto.
Seria estúpido continuar depositando lágrimas e flores para velhos mortos;
Nunca mais voltariam, nunca mais vestiriam a mesma forma.
Tempo.
Aprisionamos o tempo em ideias, compromissos, possibilidades, férias, feriados;
Impomos regras a esse labirinto de luz/sombra,
Labirinto sem saída, sem espaço para arrastar sonhos gordos demais.
Pequenos tempos e pequenos sonhos; nos satisfazemos deles, agora que nada faz sentido.
Da mesma forma que nos distraímos com as unhas e com as esperanças milimétricas.
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