Somos um vale de lamentosos,
Perdidos em agonias.
Ásperos, cansados, maltrapilhos, lacrimejantes.
Que dias, Bom Deus!
Sem nuvens no céu,
Sem água no chão!
O horizonte ergue-se negro de maus presságios.
Meus ossos enfriam e tremem,
Minha carne queima.
Não só eu caminho contra minha natureza,
Remo contra minha própria correnteza,
Mas tantos e tantos. Nos matamos aos poucos.
Li uma frase displicente:
"Somos instantes"
E meu peito se comprimiu, comprimiu...
Não pode ser, não podemos ser.
Precisa haver algo mais, algo além, algo que sobreviva.
Não me consola a beleza frágil das flores,
Quero a sombra eterna das árvores!
É ingratidão, bem sei:
Mas qualquer memória é mão rude a apertar minha garganta.
É tolice, bem sei:
Mas ainda acredito que existe algum futuro.
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