9 de out. de 2014

Natureza morta


Somos um vale de lamentosos,
Perdidos em agonias.
Ásperos, cansados, maltrapilhos, lacrimejantes.

Que dias, Bom Deus!
Sem nuvens no céu,
Sem água no chão!

O horizonte ergue-se negro de maus presságios.
Meus ossos enfriam e tremem,
Minha carne queima.

Não só eu caminho contra minha natureza,
Remo contra minha própria correnteza,
Mas tantos e tantos. Nos matamos aos poucos.

Li uma frase displicente:
"Somos instantes"
E meu peito se comprimiu, comprimiu...

Não pode ser, não podemos ser.
Precisa haver algo mais, algo além, algo que sobreviva.
Não me consola a beleza frágil das flores, 
Quero a sombra eterna das árvores!

É ingratidão, bem sei:
Mas qualquer memória é mão rude a apertar minha garganta.
É tolice, bem sei:
Mas ainda acredito que existe algum futuro.

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