11 de out. de 2014

Evanescência


Implorei para que o tempo se confundisse.
Que o passado fosse o presente,
Que o presente fosse passado,
Que o futuro continuasse pertencendo a Deus.

Dos tantos absurdos que já desejei,
Talvez ainda deseje,
Mudar a ordem do tempo não é dos maiores.
Acredite-me.

Mas o tempo não age da mesma forma que os bons amigos:
O tempo não me deu ouvidos, não deu qualquer atenção.
E nem quis acreditar quando vi a mim mesmo chorar num canto escuro,
Encolhido, fetal, imperceptível, como noutroras tão distantes. 

Implorei para que o tempo voasse.
Rápido e para longe, levando tudo, tudo...
Mas ele permanecia inalterável, frio, silencioso.
O tempo até se parece com o amor.

Desisti das súplicas.
Que cada dia fosse uma batalha a ser vencida então.
Que cada manhã fosse um renascer,
E cada anoitecer, uma coroação.

Agora não sei como o tempo funciona,
A certeza é que ele passa;
Levando algumas coisas, 
Deixando outras.

Nessas idas e vindas, vão pedaços da alma.
E ao contrário da penetração dos sentimentos, tão vivos,
Não doem as partes que morrem. 
Morremos educadamente, sem alarde, sem gritos...

Vamos evanescendo, eu, os dias, os sonhos, as memórias.
Como nuvens de primavera num céu quente demais.
Vamos esquecendo a amplidão, a euforia, o sabor.
Os pequenos milagres voltam a ser grandes, pois são os únicos.





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