5 de out. de 2014
Morte e vida
É engraçada,
não,
É estranha.
Melhor: é absurda minha relação com a esperança.
Quando estou prestes ao fim, ela nasce e me salva.
Mostra uma bela palheta de cores com que eu poderia repintar o mundo.
Quando todos os outros sentimentos já partiram,
Ou me partiram, ela surge, como uma heroína mitológica,
Livrando-me das correntes do desespero e da solidão.
Então, ela se instala.
E quando tudo parece calmo, ela começa a crescer...
Invade todos os cômodos da alma com seus galhos e raízes.
Me comprime. Rouba meu ar. Rouba a visão do mundo externo.
Quase me leva à morte por inanição;
Por consumir toda minha razão, todo meu instinto.
Então, preciso, não muito delicadamente, destruí-la.
Vou até seu âmago e a enveneno com a verdade.
Ela até resiste, mas acaba por sucumbir e murchar.
Mato a esperança para que ela não me mate.
Então recolho seus restos e sobre eles deixo minhas lágrimas,
Pois, certamente, não queria perdê-la,
Mas precisava; não podemos viver tanto tempo sob o mesmo teto.
Confesso que guardo algumas de suas sementes,
E em certos dias, quando o vento é morno, acabo replantando.
Ver a esperança brotar e crescer e florir é tão lindo...
Quase até me esqueço do dia em que ela tentará me sufocar,
E eu a expulsarei de mim.
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