5 de ago. de 2014

O sentir




Onde fica o misterioso país das memórias,
em que tudo é revestido por uma falsa película de eternidade?

Eternidade... esses ventos de agosto, que quase me derrubam -
não por serem fortes - mas por serem doces e meigos demais,
e o galho florido do ipê, agora negro e ressequido - antes amarelo de flor -
me pareciam eternos...

Parece tão fácil estender a vida como um mapa e apagar as linhas que não se poderá mais seguir,
talvez seja,
ou talvez as linhas fiquem para sempre ali, como uma cicatriz, uma ode ao fracasso.

Adormecem as lembranças nessa terra, como as rochas?
Mortas e imóveis elas servem de abrigo a qualquer coisa?
Ou apenas o tempo, mestre de todas as coisas, tem poder de trazer qualquer mudança?
Eu apenas observo quando ele vem, 
trazendo novas filhas, levando para o desconhecido as antigas.

Tudo é assustadoramente aceitável aqui, no mundo dos Absurdos.
Ainda ontem o amor era muito, era completo, era profundo, era forte,
e hoje é adeus. 
Assim: adeus. 
Aqui, no mundo dos Absurdos nada fica firme por longo tempo.

Se não bastasse, recebo a visita indesejada da Realidade.
Velha ranzinza e amarga.
Orgulhosa, despeja fatos no meu peito como se eu não soubesse que ela mesma é a maior das ilusões.

"Não sinta!" 
Diz ela, sentada próxima demais ao ponto de eu sentir a frieza da sua pele.
"Cale, não sinta!" 
Repete ela....
Mas eu continuo tentando alimentar a alma, já raquítica de esperança, com algumas lembranças que começam a fugir do meu toque.
"Quero seu bem, cale, não sinta!" 
Ela insiste; estúpida, vazia, grosseira.
Respondo enfim: Eu sinto, não há escolha: eu sou o próprio sentir.