19 de ago. de 2014
Cataplasma
Desperta com um murro a ferida que parecia jazer pacífica.
Escorrem líquidos quentes, amargos...
Dos olhos, da ferida.
Rompe-se novamente a represa de palavras.
E digo, e canto, e imploro pelo que já não deveria.
Novamente o silêncio explica: acabou.
Mas a ferida latejando não me deixa esquecer.
Insisto. Mais silêncio...
Persisto. O silêncio grita!
Repouso, enfim. Qualquer sofrer exaure.
Noite curta, estranha, sem sonhos, sem pesadelos.
Nada. Mais nada.
O escorrer de líquidos cessa.
Mais um dia limpo do vício da presença.
Mais um dia morto, apesar de vivo.
Morto como são as palavras oferecidas.
O olhar oferecido.
A mão estendida...
Flores, ervas, arrancadas do jardim,
colhidas sem dever.
Começo a partir, quebrar, triturar tudo o que murcha sem vida.
Canção, poema, pedido, sonhos.
Faço um cataplasma e coloco sobre a ferida.
Ela passa a latejar menos, a torturar menos.
Ao menos por mais um dia.
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