4 de ago. de 2014

Errados


Foi-se a flor de laranjeira, a flor que embelezava as noites e os habitantes dela.
Foi-se o perfume inebriante, os sons baixinhos de risos na madrugada sonolenta.
Toda a magia partiu, como um fogo de artifício bonito e colorido, explodindo no céu.
A luz do dia partiu, tão honrosa consigo mesma, mas não deixou estrelas a me consolar.

Não há nada de errado com o mundo.
Tudo está na mais perfeita ordem que a maioria deseja.
Nesta realidade gerida pelo inferno, nada tenho direito de criticar.
Errado estou eu, estamos nós, aqueles que acreditam nos malditos contos de fadas, sempre com finais felizes.
Só que, ninguém, jamais, se lembra de dizer que qualquer final que seja, é um final triste.

Não é isso o mundo?
Feras se matando por um bocado de carne?
Entorpecidas almas vagando com os músculos preenchidos de morfina?
Abutres egoístas digladiando por um pedaço de cadáver?

Errado estou eu, que gasto meus últimos centavos com roseiras,
Esperando que da terra morta e infértil brote alguma poesia,
alguma consolação aos olhos que só fazem ver adeuses,
só fazem ver gritos e distâncias.

"Fracos!"
Bradarão em coro todos os anjos ao chegarmos ao além.
"Fracos e mesquinhos, todos vocês!"
E calaremos, pois nada melhor que isso somos.

Entrego com mãos humildes e trêmulas todas as quimeras que me foram oferecidas.
Que fazer se não me render à turba insana?
Plantar flores, remover pedras?
O mundo agoniza, e o perfume das minhas flores não curam dor alguma.

Que alguém nos ouça!
Que alguém, Quem quer que seja, saiba o sentido de toda essa barbárie.
Pois a pouca carne e ossos que possuo já me cansa, 
já me é pesado demais,
E assim é com todos, todos.

Porque, mesmo com os pés na terra, 
acorrentado, átomo a átomo, à matéria,
vi que a vida persiste após a morte.
pois morri na última manhã de sábado,
e continuo aqui sentindo cada centímetro da minha pele em chamas,
bebendo cada litro do fel que se transformou meu amor ao não mais poder te oferecer.


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