22 de jul. de 2014

Perdão


Peço perdão à palavra.
A palavra que soprei ao vento, como semente alada,
e observei, complacente, deitar sobre rochedos estéreis.
Não há culpa para a palavra,
Nem há culpa para o rochedo.
É minha a culpa.

Peço perdão ao silêncio, que grita e grita,
pedindo que eu o veja, que eu o toque.
E eu nego, firme, como se o silêncio não existisse,
Como se o silêncio não me preenchesse
e não fosse eu mesmo.

Peço perdão às flores, às quais dei o duro fardo
de serem esperança.
E ainda sofro e me revolto ao vê-las murchar 
e abandonar meu jardim.
Que obrigação teriam elas com minha fé?

Peço perdão à realidade que recuso,
recuso com veemência,
entorpecido por sonhos infantis, quimeras, utopias, epifanias.
Como se em minhas veias não corresse sangue vermelho e quente,
mas apenas sentimentos.
Como se a ilusão ainda pudesse me salvar,
quando na verdade, é minha pena.

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