15 de jul. de 2014

Sob água


Lembro sorrindo dos dias de sol.
De manhãs não tão frias, em que o vento delicado trazia bailando
o perfume de flores recém-desabrochadas.

Ainda me acalenta o calor, como se ele nunca se despedisse,
E sua presença silenciosa,
Ainda nas roupas, nas paredes, nos lábios, no espírito.

Meus pés recordam-se da terra firme,
Uma terra de certezas e abrigos.
A terra que agora é mar, e o mar nos sobrepõe.

Meu coração segura memórias como fotografias inalteráveis,
Ignorando a pressão que as águas exercem,
Ignorando a imensidão delas.

Acalma-te, peço ao peito, 
enquanto as correntes marítimas o seguram no fundo.
Apascenta-te, ainda que ventos submarinos o impeçam de ser firme.
Ilumina-te, mesmo que com a luz caleidoscópica da superfície.

Após a noite de estrelas ausentes e tempestades presentes,
Poderemos voltar à superfície, mesmo feridos pelo frio das profundezas.
Poderemos repousar em terra firme e morna.
Sorveremos a calmaria e a claridade meiga de um sol recém-nascido. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário