31 de jul. de 2014

Lírio da paz


Em meio às tempestades, com ventos ferozes
uivando nas árvores e cabos elétricos;
Em meio aos pesadelos em que eu, já velho,
me escondia embaixo da cama como qualquer criança;
Em meio às sementes que teimam em não germinar,
ele veio: um pequeno lírio da paz.

A coisa que pensei quando o coloquei naquele canto foi:
Quando o amor passar pela porta, será a primeira coisa que ele verá.
E talvez o coração do amor se alegre em ver aquela pequena beleza humilde.
Mas agora o observo com olhos marejados...
Talvez o amor não o veja.

Talvez apenas eu possa ver e dar importância àquelas flores.
E eu toco o lírio e cuido do lírio como se cuidasse um pouco do amor.
Ignorando as paredes sujas da minha alma,
Ignorando os estrondos que os fantasmas emitem de dentro dessas paredes,
Ignorando que a vida e o universo persistem além do sonho e do verso.

Mentimos tão bem quando dizemos não querer nada do amor.
Fingimos tão bem que não somos mais espíritos enlameados,
apenas rastejando rumo à angelitude.
Do amor queremos o amor.
Queremos que ele nos absorva em seu âmago,
Nos envolva como a terra envolve a semente.

Mas não mentimos quando dizemos que o amor é forte.
Forte como o Jardim que persiste vivo após a tempestade.
Forte como meu apreço pelo pequeno e doce lírio, que ali,
imóvel e silencioso, me obriga a entender como a esperança
e a vida
trabalham em seu tempo, e não no do meu coração.

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