Há
pouco foram épocas áridas.
Mudanças,
dúvidas, os mesmos medos de sempre somados a alguns outros.
O
caminho também era sempre o mesmo. Movimentado, poluído, repleto de pessoas com
muita pressa e pouca educação.
Pessoas
avançando o sinal, avançando a faixa de pedestres, avançando em outras pessoas.
O
sol nascia e se punha sempre às minhas costas; o sol nunca me olhava de frente.
Era
verão tão quente de dar raiva e eu sentia falta dos ipês.
Pensei:
como um ser como eu pode viver num mundo tão sóbrio? Tão certo e seco?
Não
pude deixar de lembrar da infância, onde tudo eram magias e belezas.
Não
pude deixar de sentir falta das ilusões douradas que se faziam minhas
armaduras.
Mas
não é que há uns dias as coisas mudaram?
Mudei
de bairro, de caminho, de sintonia.
Agora,
virando a primeira esquina de casa, o sol está explodindo em luz, tanto ao
ponto de quase me cegar, por Deus que ninguém vem à frente, porque nem olho
mais o caminho, apenas enxergo aquela imensa e delicada luz me desejando um bom
dia.
Dobrando
a segunda esquina, vejo não muito longe os ipês que começam florescer,
escondidos entre moinhos, chaminés, outras árvores mais escuras.
Dobrando
a terceira esquina chego à Avenida dos Ipês, eu e o Amor a batizamos assim. Uma
avenida longa e dupla, onde tive minha infância, fiz meus primeiros amigos, dei
meu primeiro beijo; nos outonos/invernos ela fica decorada com as flores rosas
e amarelas dos ipês.
É
um presente aos olhos.
Agora
vejo as meninas ensaiando passos de dança lá fora, é pra gincana de aniversário
da escola; aqui dentro ouço uma canção que fala sobre obras-primas; uma voz
suave, uma melodia impecável. É um milagre.
Lembro-me
dos nossos corpos, corações e almas tão alinhados. Lembro do calor que geramos
em resposta aos nossos frios.
Lembro-me
da sua doçura ao dizer que ficaria mais uma noite comigo, que não tinha
problema, que iria de volta à sua cidade na manhã seguinte, acordaria mais cedo
para chegar na hora ao trabalho.
Foi
mais uma felicidade.
Mais
à tarde, junto dos primeiros minutos da noite estarei indo pra casa, eu e meu
sol. Ele, tão imenso, quente e magnífico, se fará humilde, se esconderá atrás
das árvores no horizonte distante para que possa brilhar uma pequena estrela em
seu lugar.
E
ao me dar conta de tudo isso seguro para que meus olhos não transbordem.
Os
mundos que conheci e construí há tanto tempo, permanecem imersos neste daqui,
não acredito que quase deixei de sentir isso...
Não
acredito que quase deixei de sentir.
Amei o texto querido! Saiba que também trilhei esses caminhos e vi essas paisagens e luz...Maravilhoso como tudo que você escreve e deixa fluir do seu íntimo.
ResponderExcluirObrigado pelo sempre presente apoio e carinho. Você é uma pessoa muito especial!
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