Tudo já não tem nada
Daqueles tempos simplificados
Em que fabricávamos pequenas memórias preciosas
E as guardávamos nas prateleiras da alma sem saber
Que não muito depois
O tempo nos cobriria com uma névoa amarga e densa de realidade
Quase nos sufocando
Quase nos despertando
Aqui dentro apenas temos vivido na espera de um velho milagre
Que ao menos mantenha esse trem perigoso nos trilhos por mais alguns instantes
Enquanto lá fora hordas de lunáticos fantasiados de palhaços malignos
Dançam sobre covas rasas e recentes
Mas como pequenas absolvições
A chuva no auge da estiagem
O jardim resistindo e florescendo
A nova doce e forte canção
Sobre sentimentos escarlates
O cheiro do quarto sempre vazio
Estranho e bom
Como o perfume das cortinas daquela antiga locadora de filmes
Em que íamos quando jovens
Então pelos corredores de lembranças pequenos brilhos despencam lentamente
Uma garoa delicada acariciando o corpo envergonhado
Que naqueles antigos dias talvez até tenha conhecido o amor
Agora nos sonhos confusos
Há sempre uma mão entre as minhas mãos
Há uma fortaleza
E há seu sorriso
Embora sua face nunca esteja voltada para mim.
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