Pessoas melhores viveram tempos piores, e se hoje ainda temos direito ao grito, e gritamos, é por esses que gritaram antes, até perderem a voz. Gritamos hoje por aqueles que tiveram suas vozes usurpadas, caladas, pela fome, pelo descaso, pelas políticas de morte alimentadas por veias contaminadas de ódio e escuridão.
Gritamos, até que nossa voz seja temida.
E choramos, como não?
Por desespero, por alívio, por esperança.
Mas choramos abraçados, como irmãos.
Porque não estamos presos em uma sala de espelhos, onde só nosso reflexo existe por todos os lados.
Vemos o outro.
Somos o outro;
Ainda que o outro tantas vezes não nos veja, não nos seja;
Ainda que o outro, tendo a mesa farta, jamais sinta algo sobre quem nem a mesa mais tem.
Agora as ruas estão silenciosas... Talvez pelo prelúdio da batalha, talvez pelo cansaço das almas, talvez por um luto que parece nunca ter fim.
E assim chegamos ao mês da Doce Mãe... Olhando o horizonte como pequenas crianças perdidas, como filhos confusos presos em vórtices de sentimentos.
Em meio a isso o perfume das manacás atravessa as grades e hostilidades, apascenta os corações em busca de trégua.
Esperamos então... Mas não afiando espadas e alinhando escudos, esperamos de mãos dadas, novamente, como irmãos; em prece, os que têm fé, com a bandeira da cor do sangue em riste, os que têm coragem, com o peito aberto, os que têm Amor.
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