19 de mai. de 2021

19/05/2021



 Uma pequena claridade em um horizonte ainda distante, o outono esvaziando as ruas e envolvendo o corpo com sua brisa não tão gélida, a miragem de um sorriso ainda escondido por camadas grossas de realidade e distância... os poucos preciosos corações que ainda se deixam tocar por palavras mal esculpidas, repetidas, gastas; um pouco de beleza escondida por entre escuridões verdadeiras e luzes artificiais, e a canção sobre tolerância, e os pés firmes, e as pernas sóbrias, seguindo o mesmo caminho em círculos, o olhar enriquecido com uma leve lente de poesia. Tudo isso, toda essa forma torta e bonita de ter fé, de ver nas estrelas mais que grandes incandescências, é uma espécie de mergulho em um oceano que não foi contaminado com saudade ou ilusão. E o aroma da noite de alguma forma diz que se aproximam dias em que além de resistir, será possível talvez até sonhar, mesmo sendo difícil antever o milagre enquanto não cessam os desmoronamentos. 

Sim, fantasmas ainda rondam, eu sinto. Mas não preciso que murmurem maliciosamente os meus pecados de novo e de novo. Conheço cada passo em falso, cada mácula, cada heresia... são desses e de outros velhos lamaçais que hoje colho os lírios para adornar o altar da pureza e da esperança.