1 de mai. de 2021

01/05/2021

 


Não deixa de ser como se toda noite os mesmos cansativos fantasmas trouxessem para debaixo do cobertor meus não tão velhos pecados que ocupam mais espaço do que talvez mereçam ocupar. 

E não há mais a luz de qualquer você escorrendo pelas rachaduras que se abrem nos dias, apenas há uma brisa fria fluindo pelas frestas que já não se fecham mais. 

E não posso culpar mais nenhum adeus, não posso sentir falta dos lugares e sentimentos que não me pertencem mais, ou das falsas promessas que não me serão feitas outra vez. 

Não pude ser algo tão bom quando alguém já pensou que eu poderia ser. Haviam tantos incêndios, tantas mãos, e o medo, o medo que no máximo só fingia às vezes partir. 

Mesmo estando dolorosamente sóbrio, nada está claro... Pode ser que seja mais um lamento, mais um pedido delicado de socorro como sempre inaudível, o lapidar do que sobrou de emoções bem pouco preciosas. 

Em quais tempos falar da esperança senão nos piores? 

E quais versos adocicar para dar algum sabor ao que já perdeu o significado? 

Quais palavras usar para não deixar partir a memória dos meses mornos em que olhávamos o sol dourando o caminho como se ele fosse seguro e infinito?

Não haverá um "mas" desta vez. Ou uma vírgula. Ou um talvez. Ou uma reticências. Ou um sentido. 

É apenas um esforço para que a rendição ao silêncio que se aproxima não aconteça tão cedo. 

Mas talvez, talvez... Consigamos nos perdoar pelos pecados que não soubemos como não cometer. 

Talvez em breve estejamos a salvo e nos banharemos em mais do que restos de claridade.