17 de mai. de 2021

17/05/2021

 


O cheiro forte do café e o vento que faz dançar as árvores trazem algum encanto daqueles idos dias leves. 

Eu me lembro de quando os galhos retorcidos e floridos do ipê rendiam poemas ao amor distante, enquanto as crianças corriam descontroladas, repletas de vida e felicidade pelo pátio agora vazio e silencioso. 

E realmente não é muito... o perfume, a luz que atravessa as folhas que dançam, o vento, os resquícios de memórias adocicadas e os pequenos lampejos de fé; não é muito para que se alimente a esperança e a faça forte como um dia fora. Mas hoje, diferente do ontem e do ontem a ele, é perceptível que no âmago mais profundo algo de Belo tem sobrevivido, ainda que raramente seja capaz de vir à tona.

Talvez persistir já seja uma vitória diante da fragilidade da vida, diante de todo desamparo. 

Talvez isso seja mais um lamento, uma fuga, ou talvez seja uma oração de sincera gratidão. 

Se dias melhores estão por vir, ninguém sabe, mas hoje há tudo isso que é tão pouco, e ao mesmo tempo é tanto, soprando junto ao vento e secando as lágrimas que não podem ser impedidas de cair.